domingo, 27 de setembro de 2009

Os Véus da Existência Negativa

Os três Véus da Existência Negativa demarcam, na Cabala, uma fronteira entre a Existência e a Não Existência. Antes de Kether, nada existia, e esses véus são justamente a fronteira entre a Criação e o Nada existente antes da Criação. Porém lembre-se que a Cabala é baseada em símbolos e, portanto, não podemos levar todos os termos de forma literal. Por trás dos véus está o Absoluto, e dizer que por trás dos véus não existe nada, significa dizer que as qualidades do Absoluto são tão elevadas que é impossível para nós imaginá-las ou entendê-las. A essência do G.A.D.U. é tão transcendente que para nosso intelecto é como se não existisse, pois é completamente diferente de qualquer coisa que a nossa mente possa conceber.
Porém, para entender a Criação, a Cabala tem que ter um ponto de partida, e como o Absoluto é impossível para nós alcançarmos com o intelecto, temos que partir do primeiro ponto da Manifestação que nos é possível chegar através da mente racional, e esse ponto é Kether. Essa sephirat é o que de mais transcendente a nossa mente pode compreender ou imaginar. Além de Kether é o Nada, pois nossa mente não consegue ir mais além. E esse limite mental é simbolizado pelos Véus da Existência Negativa. Embora não saibamos absolutamente nada sobre a natureza do que está por detrás desses véus, podemos intuir suas qualidades analisando as sephirot, pois a Árvore da Vida nada mais é do que a manifestação daquilo que está por detrás dos Véus. Um fluxo de energia constantemente atravessa os Véus em direção a Kether, mantendo o Universo em movimento. Logo, tudo o que ocorre no Cosmos é o resultado desse fluxo, que ao atravessar os véus se manifesta pela primeira vez em Kether. Dessa forma, tudo o que existe é consequência do que ocorre por detrás dos Véus da Existência Negativa, e analisando as consequências, podemos tirar algumas conclusões sobre as leis que regem a origem das mesmas, embora não possamos saber absolutamente nada sobre a natureza daquilo que originou tais leis.
Embora Kether seja o ponto máximo que podemos chegar com o intelecto, esse limite não é estático. Não podemos ir além desse ponto com a nossa mente racional, portanto, para ir além dos Véus da Existência Negativa, temos que deixar nossa mente intelectual para trás e voarmos mais alto. Tentar entender o Princípio Criador com a mente racional seria o mesmo que tentar ouvir música com os olhos ou tentar ver um quadro com os ouvidos. Temos que nos valer dos sentidos certos para isso.
Somente através da meditação e da harmonização cósmica é que podemos ter vislumbres do que se passa na Existência Negativa, pois dessa forma a informação é transmitida para nossa mente consciente através de nosso Eu Interior, e para quem está acostumado a esse tipo de “contato”, sabe que essa informação nos vem como uma “certeza” sem, porém, entendermos “porque” e nem “como”. Nós simplesmente sabemos que é, mas não conseguimos entender o fato de forma racional. Porém, como a evolução é a base do Cosmos, essa certeza intuitiva fica como uma semente em nossa mente, e com o passar do tempo, como resultado de meditações e reflexões constantes, nossa mente racional chega a uma teoria que explique essa verdade, e daí nós passamos também a entendê-la. Nesse momento, os véus são deslocados para trás, e o que antes fazia parte da Existência Negativa, para nós passa a fazer parte de Kether.
Outra coisa que vale a pena salientar, é que a posição dos véus da Existência Negativa também varia de indivíduo para indivíduo, pois depende da evolução espiritual e do nível de conhecimento e instrução de cada um. Porém, independentemente da espiritualidade, do desenvolvimento intelectual e do máximo de pensamento abstrato que a mente da pessoa possa atingir, todos possuem uma Kether como o ponto de origem da Criação, além do qual não conseguem compreender. O mais importante, porém, é saber que essa fronteira não é estática, e ao invés de se conformar com essa limitação de forma dogmática, passiva e conformista, temos que trabalhar para que esses véus sejam cada vez mais deslocados para trás, para que possamos entender amanhã o que hoje nós não temos a capacidade de compreender! E temos que ter em mente que a cada descoberta, novas dúvidas a respeito da mesma irão nos surgir, de forma que embora os véus possam ser deslocados para trás, eles jamais irão deixar de existir. Afinal de contas, só o ignorante acha que já sabe tudo e não tem mais nada para aprender!
E a Árvore da Vida é uma ferramenta que a Cabala nos fornece para chegarmos a esse fim, pois através de seu entendimento, nós entenderemos como o Princípio Criador se manifesta, e dessa forma, poderemos ter “vislumbres” sobre o que existe por detrás dos Véus da Existência Negativa.
Embora não saibamos nada a respeito do que existe por detrás dos véus, podemos intuir alguma coisa, e a cabala nos fornece símbolos para tentar nos passar alguma intuição a respeito.
Dessa forma, o primeiro véu seria AIN, ou seja, a Não Existência. Isso indica que o estado primordial é algo completamente fora de nossa capacidade mental de entendimento. É algo tão diferente que é como se não existisse.
O segundo véu é AIN SOPH, ou seja, o Ilimitado, o Infinito. Também é um estado que não podemos compreender, mas podemos intuir que é uma etapa a mais no caminho da manifestação. Agora, o Nada dá espaço ao Ilimitado, ou seja, é alguma coisa que ocorre e que será o pano de fundo, ou substrato, da Criação. Ainda não é o tempo, não é o espaço e nem a alma, mas é algo que é Infinito.
O terceiro véu é o AIN SOPH AUR, ou Luz Infinita. Essa Luz Infinita não é a luz que conhecemos, como também não é nada parecido com ela. É apenas uma forma de dizer que nessa nova etapa, o substrato da Criação é preenchido com algo sem forma que a tudo preenche, porém ainda não há tempo, espaço, luz, energia ou alma. Logo, essa Luz Ilimitada ainda não é a manifestação, ainda é algo que não conseguimos nem sequer imaginar o que seja. Só foi dado o nome de Luz para simbolizar que o “algo” que existia antes foi preenchido por “alguma coisa” que passou a existir depois. Diz-se que a Luz Ilimitada é o “círculo cujo centro está em todo lugar e cuja circunferência está em lugar algum”.
E é desse “algo” da Existência Negativa que emana Kether, a primeira coisa a existir de fato, dando origem à Criação.

Bibliografia:

1-) The Mystical Qabalah
Autora: Dion Fortune

2-) A Cabala Das Feiticeiras
Autora: Ellen Cannon Reed

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