A Verdade Suprema nos escapa por completo, sendo inacessível a qualquer ser humano, da mesma forma que uma única célula de nosso corpo jamais poderá exercer, sozinha, as complexas atividades mentais que um ser humano normal consegue exercer. Porém, o Grande Arquiteto do Universo, em sua infinita sabedoria, não nos privou de termos “vislumbres” dessa verdade, da mesma forma que cada célula de nosso corpo, individualmente, não é privada da consciência necessária para agir em conformidade com as atribuições que lhe são confiadas, visando auxiliar no bom funcionamento do corpo como um todo.
Vislumbres dessa Verdade são acessíveis a todos que a procuram. E como nenhum grupo, ou civilização, possui o monopólio da Verdade Suprema, tal Verdade vem se manifestando, através das eras, de formas diferentes em todas as civilizações do planeta. Basta ter olhos para ver!
Dessa forma, vou analisar como essa Verdade se manifesta no paganismo nórdico. Mais precisamente, vou divagar sobre como um pagão, que cultue os Deuses e Deusas do norte da Europa, poderia entender as questões da alma humana. Para isso, analisarei uma entidade espiritual de vital importância, denominada Fylgja.
A Fylgja, na mitologia nórdica, é a nossa sombra. É um ser que nos acompanha, e geralmente, nos aparece na forma de um animal, e raramente, na forma de uma mulher. Tal ser faz parte de nós mesmos, e está sempre pronto a nos proteger. Se junta a nós no nascimento, e com a nossa morte, nos leva para a nossa nova morada no outro mundo.
A Fylgja tem relação com a nossa consciência, pois além de nos guiar e nos aconselhar, também é a responsável por levar a consciência do xamã através das viagens astrais. E nas meditações e transes, também é ela a responsável por nos fazer entrar em contato com os Deuses e outras entidades espirituais.
Assim sendo, olhando para a Árvore da Vida Cabalística, eu me perguntei: Será que existiria algo na Cabala, que pudesse ser correspondente a Fylgja da Tradição Nórdica? Caso afirmativo, a que sephirah corresponderia a Fylgja?
De acordo com os cabalistas, a Árvore da Vida pode ser dividida em 3 colunas verticais, sendo que a coluna do meio, formada por quatro sephirot, é considerada, pelos hermetistas, como a Coluna da Consciência. Ora, se a coluna do meio é considerada a Coluna da Consciência, eu me arrisco a dizer que a Fylgja poderia ser relacionada a uma dessas quatro sephirot, pois afinal de contas, a Fylgja está relacionada a nossa consciência.
Mas quais são essas quatro sephirot ?
As Sephirot da Coluna do Equilíbrio
Começando de cima para baixo, a primeira delas é justamente Kether. Kether é considerada por alguns místicos como sendo a nossa alma, a centelha divina que arde dentro de nós. Seria a nossa essência. Um dos nomes para Kether significa "Eu Sou". E o que é a nossa alma, senão nós mesmos da forma mais pura e original que se possa imaginar?
Abaixo de Kether está Tipheret. De acordo com os estudiosos da Cabala, é em Tipheret que surge, pela primeira vez, a consciência. De acordo com essa teoria, em Kether nossa alma não tem consciência de nada, pois lá nós simplesmente "Somos". Seria em Tipheret que nossa alma começaria a tomar consciência das coisas. É onde a mente, em sua concepção mais pura, começaria a se formar. Dessa forma, seria em Tipheret que habitaria o nosso Eu Interior. É dito que os fluxos Divinos que vem do alto se encontram com os fluxos provenientes do mundo material, que vem de abaixo. E quando essas duas correntes se encontram, em Tipheret, nosso Eu Interior então tomaria consciência das coisas como elas realmente são.
Tipheret, então, estaria intimamente ligado a Kether, pois o Eu Interior seria a consciência da Alma, ou seja, a Mente Superior. Antes de prosseguir na análise das sephirot, convém fazer uma pausa para falarmos um pouco sobre os “corpos” que formam o ser humano encarnado aqui na Terra.
A Natureza Trina do Ser Humano
De acordo com algumas teorias herméticas, o ser humano encarnado seria composto, de forma simplificada, por três partes principais: uma parte física, uma parte astral e uma parte divina, sendo que, dessas três partes, a parte divina seria a única que seria eterna, enquanto as partes astral e física seriam passageiras. E, além disso, cada uma dessas três partes seria composta por três subdivisões cada uma, que são: um espírito, um corpo e uma mente. O espírito seria a própria essência, o corpo seria o que dá suporte à manifestação dessa essência no referido plano, e a mente seria a consciência que surge da união do espírito com o referido corpo.
No plano divino, a essência seria a nossa própria alma, ou seja, a nossa centelha divina, cuja mente seria o nosso Eu Interior. A nossa alma ainda não está plenamente consciente de si mesma. Ela tem apenas consciência de uma parte de suas potencialidades, sendo essa consciência o Eu Interior, também chamado de Mente Superior. Faz parte da evolução cósmica a alma se tornar cada vez mais consciente de suas potencialidades divinas, e quando ela se tornar plenamente consciente de si mesma, diz-se que se atingiu a iluminação cósmica. E quanto ao corpo da parte divina, vou chamá-lo de corpo luminoso, embora já tenha lido alguns autores se referirem a ele como corpo causal. Sua natureza é extremamente sutil, vibrando nas frequências mais altas do teclado cósmico.
Já o corpo físico seria o que todos nós conhecemos. É feito de matéria e energia, como por exemplo, eletricidade e calor. Vibra nas mais baixas frequências do teclado cósmico. A mente desse corpo físico seria formada pela nossa consciência objetiva e pela nossa personalidade, ambas funções do cérebro e de nossas experiências no dia a dia. Tal mente física seria a manifestação, na matéria, de nosso Eu Interior. Porém, quando algo que vibra em altíssimas frequências, como a Mente Superior, tem que ser convertido em algo de baixíssimas frequências, como a mente física, algo se perde nessa conversão. É por isso que a nossa personalidade é apenas um reflexo de nosso Eu Interior, sendo que a maior parte das qualidades de nossa Mente Superior não podem ser manifestadas em nossa consciência objetiva. E a essência dessa parte física seria uma pequena parcela da energia de nossa alma que nos chega até o plano material.
Se tivermos um equipamento de telecomunicações que opera em altas frequências, e na outra ponta um outro que opera em baixas frequências, é óbvio que um não saberá da existência do outro, pois não conseguirão se comunicar. Será necessária a existência de um conversor entre ambos os equipamentos, convertendo o sinal de altas frequências num sinal de baixas frequências, e vice-versa, para que ambos se conectem.
O mesmo ocorre em relação à alma e ao corpo físico, sendo que a função do equipamento conversor de frequências é realizada pelo corpo astral. É o nosso corpo astral que conecta a alma ao corpo físico, permitindo, assim, que o ser humano possa viver na Terra. Tal corpo é composto de uma substância que vibra numa frequência intermediária entre a matéria física e a substância sutil que forma o corpo luminoso. É através dele que o Eu Interior manda inspiração à mente física, assim como é através dele que a mente física manda as impressões e lições mundanas ao Eu Interior. A mente do corpo astral seria o subconsciente, sendo por tal motivo que qualquer contato com o Eu Interior tem que ser realizado através da introspecção, pois o subconsciente é a ponte entre a nossa consciência objetiva e o nosso Eu Interior. E a essência desse corpo seria uma parcela da energia de nossa alma que chega ao plano astral. E como esse plano vibra numa frequência mais próxima das vibrações divinas do que o plano terreno vibra, a parcela da energia de nossa alma, a vivificar o corpo astral, é maior do que a parcela da mesma que chega até o nosso corpo físico.
Com isso em mente, podemos voltar à Árvore da Vida Cabalística.
Abaixo de Tipheret
Abaixo de Tipheret está Yesod. É o plano astral. De acordo com algumas tradições herméticas, é o que dá forma ao mundo material, pois é a essência do mesmo. Antes de algo se manifestar na matéria, esse algo teria antes que ser formado em Yesod, pois de acordo com essa linha de pensamento, tudo o que ocorre no plano terreno é conseqüência da manifestação dos fluxos astrais de Yesod.
Também é onde ficaria o nosso corpo astral, o qual liga o nosso Eu Interior ao nosso corpo físico. De acordo com algumas doutrinas herméticas, a morte física seria a separação de nosso corpo astral de nosso corpo físico. Em seguida, de forma rápida para alguns, ou demorada para outros, o nosso Eu Interior abandona o corpo astral, o qual não lhe serve para mais nada. Dessa forma, o Eu Interior volta à escala vibratória que lhe é própria, deixando o corpo astral vagando pelo astral, mais ou menos inerte, aonde também irá se decompor com o tempo. É o que algumas tradições chamam de a segunda morte.
E de acordo com algumas escolas de magia, depois da morte física ainda restam, gravadas no corpo astral, resquícios da personalidade física do falecido, como se fosse um programa de computador a simular as atitudes da pessoa que morreu. Se o falecido era muito apegado à matéria, com paixões terrenas exageradas, tal “casca astral” se recusaria a se dissolver, pois esses traços da personalidade física estariam fortemente gravados no corpo astral. Poderá se transformar numa espécie de “vampiro”, sendo atraído para perto de pessoas que possuam as mesmas paixões exageradas do falecido. Essa proximidade faz com que a pessoa tenha essas paixões intensificadas, numa espécie de ressonância. E é justamente esse excesso que gera a energia necessária para alimentar essa “larva astral”, aumentando-lhe o tempo de sobrevida. Estaria aí mais um motivo para se acreditar que sentimentos negativos apenas atraem desgraça!
E voltando o foco para a comparação com a consciência humana, em Yesod estaria o nosso subconsciente. É justamente a parte de nossa mente que nós não temos consciência, que está escondida, mas apesar disso, influencia as nossas atitudes e pensamentos em nossas atividades diárias.
E por fim, embaixo de Yesod está Malkhut, que para os cabalistas seria o mundo físico. Assim sendo, em Malkhut estaria o nosso corpo físico. Aí também estaria a nossa mente consciente e a nossa personalidade, que são atributos do cérebro, um órgão físico. Dessa forma, nossa mente consciente e nossa personalidade deixariam de existir com a nossa morte física, desaparecendo tal qual o nosso cérebro, que se decompõe com o resto do corpo físico. E é justamente essa personalidade, criada e mantida pelo nosso cérebro, que marcam o nosso corpo astral, podendo vir a criar, com a nossa morte, um possível “vampiro” ou “larva astral”, conforme explicado em parágrafo anterior.
A Fylgja na Árvore da Vida
Com essa ligeira explicação em mente, para mim a Fylgja poderia estar relacionada a Kether. Afinal de contas, a Fylgja é a nossa essência, ela é como realmente somos, portanto, está intimamente relacionada com a nossa alma. Seria como se a Fylgja fosse uma espécie de emanação de nossa alma em seu estado mais puro. A Fylgja seria a nossa centelha divina, com toda a sabedoria em potencial que possuímos, esperando para se manifestar plenamente.
Quando nascemos a Fylgja se junta a nós, pois é quando damos a primeira inspiração que nossa alma toma posse desse corpo. Afinal de contas, de acordo com algumas doutrinas místicas, é devido à primeira inspiração que o nosso corpo astral se liga em definitivo com o corpo físico, e é quando isso acontece que os influxos de nossa alma, através de nosso Eu Interior, se conectam com o corpo físico.
Quando morremos a Fylgja nos leva para nosso novo destino, pois quando damos o último suspiro, nossa alma abandona esse corpo, levando nosso Eu Interior junto com ela, pois como o Eu Interior é a consciência de nossa alma, ele jamais poderá se separar dela, pois ele faz parte dela! E depois disso, ao se separar do corpo astral, o Eu Interior eleva-se para o nível vibratório que lhe é próprio.
Porém, enquanto estivermos vivos aqui na Terra, o nosso corpo astral pode ser considerado como uma manifestação de nossa alma no plano astral, pois é a energia dela que vivifica o corpo astral, assim como o faz com o corpo físico. Mas, além disso, ele também é a manifestação de nosso Eu Interior no plano astral, através de nosso subconsciente. Portanto, enquanto vivos, o nosso corpo astral seria a manifestação de nossa alma, provida de consciência. Seria a energia de parte de nossa alma, já consciente de si própria, a se manifestar no astral. Portanto, quando se diz que a Fylgja aparece na forma humana, a Tradição Nórdica poderia estar se referindo ao corpo astral da própria pessoa que a está enxergando.
De acordo com alguns ocultistas, todo ser humano possui um corpo astral cuja polaridade é oposta e complementar à polaridade do corpo físico. Isso decorre da lei hermética do gênero, onde tudo que se manifesta possui o masculino e o feminino, ou seja, tudo se manifesta devido à interação entre duas polaridades opostas. Considerando-se essa teoria, quando a Fylgja aparece na forma humana, ao aparecer para um homem ela apareceria como uma mulher, pois o homem estaria vendo a ele mesmo no plano astral. E ao aparecer para uma mulher, ela apareceria como um homem. Dessa forma, nesse caso a Fylgja seria o reflexo do próprio corpo astral da pessoa, que apareceria numa forma que pudesse ser interpretada pela consciência terrena. Por isso apareceria como um humano de sexo oposto ao daquele que a vê. Isso seria uma espécie de comunicação do Eu Interior com a consciência objetiva, através do subconsciente. E como o nosso Eu Interior sabe muito mais e tem muito mais consciência das verdades cósmicas do que a nossa personalidade terrena, tal contato só poderia resultar em conselhos e avisos sobre o que estaria por vir.
Por isso, na Tradição Nórdica, consta que a Fylgja poderia aparecer para os heróis na forma de uma mulher, para aconselhá-lo, alertá-lo do perigo ou simplesmente para avisá-lo que a morte dele estava próxima.
Considerando-se o nosso corpo astral como uma manifestação de nossa Fylgja em Yesod, torna-se fácil entender porque na Tradição Nórdica se diz que é a Fylgja que leva o Xamã nas viagens a outros mundos. Afinal de contas, nas viagens astrais é o nosso corpo astral que viaja a outros mundos. Também fica fácil entender porque se diz que é a Fylgja que nos faz entrar em contato com os Deuses. Todo o contato com as Divindades se dá através do Eu Interior, que é alcançado através do corpo astral, que serve como ponte entre a Mente Superior e a mente terrena.
Aqui cabe um parenteses para uma observação interessante: se o corpo astral tem a polaridade inversa da polaridade física, como os médiuns vêem o corpo astral de uma pessoa com a mesma forma e sexo do corpo físico ?
Estou me referindo à visão do corpo astral, e não à materializações no plano físico, às quais considero bem mais raras devido à quantidade de energia necessária para isso ! Com isso em mente, cabe aqui salientar que ninguém vê o corpo astral de ninguém através dos olhos físicos, pois os mesmos não captam esse tipo de vibração. Quando alguém vê o corpo astral de outra pessoa, viva ou falecida, vê através de seu subconsciente, logo, quem vê, na realidade, é o corpo astral do próprio vidente. Se a vidente for uma mulher, ao ver o corpo astral de um homem, esse homem vai continuar tendo, no astral, a polaridade oposta à da vidente, logo ela vai sentir estar vendo um homem. E ao ver o corpo astral de uma mulher, tal mulher vai continuar tendo, no astral, a polaridade igual à da vidente, logo ela vai sentir estar vendo uma mulher. Isso é bem diferente da visão da Fylgja, na qual a pessoa sente estar vendo o seu próprio corpo astral, de polaridade oposta ao seu corpo físico. Seria o subconsciente vendo o seu próprio corpo e transmitindo essa informação à mente consciente.
Dito tudo isso, e quando ela nos aparece como um animal?
A Fylgja como Animal
Nosso corpo astral é apenas a manifestação de uma das várias faces de nosso Eu Interior, que por outro lado, é apenas uma parte de nossa alma, ou seja, é apenas a parte de nossa alma que se tornou consciente de si própria. Nossa centelha divina é, portanto, muito maior que o nosso Eu Interior, abrangendo áreas ainda desconhecidas, ou seja, ainda não conscientes de si mesma. E quando uma dessas faces, ainda não conscientes, se reflete no plano astral, se manifesta para nós na forma de um animal. Dessa forma, o que vemos de fato é um reflexo da Fylgja, e não a Fylgja propriamente dita. Nesse caso, ela é a nossa mais pura essência, livre de toda a consciência. Para que a nossa mente consciente possa entender o fato na linguagem que lhe é própria, isso se traduz no astral como um animal, também chamado em algumas tradições como animal de poder, pois esse animal representa exatamente a nossa força primordial.
A Fylgja pode se apresentar de diversas formas, pois quando ela se manifesta no astral, é apenas um reflexo dela, e um reflexo jamais poderá representá-la em sua totalidade. Portanto, a cada forma que ela toma, ela estará refletindo no astral uma das inúmeras facetas que compõem a nossa natureza mais íntima.Aqui eu gostaria de falar um pouco sobre uma casta de guerreiros nórdicos que existiu na idade média, no norte da Europa, que na época ainda era pagã. Eram os Bersekers, que significa peles de urso, sendo também muitas vezes chamados de Ulfhednar, que significa peles de lobo. Eram guerreiros de elite do norte da Europa, sendo que muitos deles também trabalharam como mercenários para o Império Bizantino. Eles também podem ter ajudado no nascimento das lendas sobre lobisomens.
Eram guerreiros de um culto especial ao Deus Odinn. Eles dispensavam malhas de proteção ou capacetes, indo para a batalha vestidos com peles de urso ou lobo. Iam munidos de espadas, lanças ou machados, e contavam apenas com um escudo como proteção. Muitos deles inclusive dispensavam o escudo, indo apenas com as armas em punho para enfrentar o inimigo. Antes da batalha eles se afastavam dos demais e realizavam uma espécie de ritual, invocando os Deuses Tyr e Odinn. Durante esse ritual eles entravam numa espécie de transe que, contam os relatos históricos, deixavam-nos completamente desfigurados. Tal processo os deixava completamente animalescos. Como verdadeiras feras selvagens, investiam contra o inimigo sem se preocupar com a própria segurança. A única coisa que importava era despedaçar o inimigo, ou qualquer um que estivesse no caminho deles.
Consta que possuíam, quando em transe, uma força e uma ferocidade sobre-humanas. Eles podiam ser abatidos várias vezes, por flechas, lanças, espadas e machados, que mesmo assim continuavam a investir e a estraçalhar o inimigo. É como se os Bersekers não sentissem as lâminas inimigas penetrando em sua carne.
Apesar de muito valorizados e empregados pelos reis pagãos do norte da Europa, geralmente eles viviam isolados, pois eles corriam o perigo de entrar em transe a qualquer momento, sem querer. E quando isso acontecia, coitado de quem estava perto!
De acordo com algumas tradições, o transe ocorria quando a Fylgja incorporava no guerreiro. Em outras palavras, o guerreiro era possuído pela Fylgja, assumindo a forma animal da mesma, que nesse caso era de um urso ou de um lobo. Baseando-se nessa explicação tradicional, para tentar explicar o fato com outras palavras, esse transe era resultado de um contato direto do subconsciente com a essência primordial da alma do Berseker, ou seja, seu animal de poder. Dessa forma, grande parte da energia primordial da alma do guerreiro, ainda não consciente de si mesma, se manifestava diretamente em seu corpo astral. Esse acúmulo excessivo e abrupto de energia no subconsciente passaria para a consciência terrena e para o corpo físico numa grandiosa e animalesca explosão. De alguma forma a Fylgja se funde diretamente com o corpo astral, ou seja, essa energia primordial da alma se manifesta sem antes se transformar em consciência em Tipheret! Não é a toa que isso só pudesse resultar em atitudes animalescas, surgidas do mais profundo do subconsciente. Isso pode ser útil em tempos de guerra e violência, mas não é nem um pouco desejável no dia a dia e em épocas de paz. Por isso mesmo que esses guerreiros, antes valorizados, passaram a ser parias da sociedade quando o norte da Europa foi pacificado, acabando por desaparecer completamente com o passar do tempo.
A Fylgja e a Iluminação Cósmica
Vimos que a fusão da Fylgja diretamente com o corpo astral é problemática e, geralmente, sem controle. Mas e sobre a fusão da Fylgja com o Eu Interior?
Sobre isso o paganismo nórdico também tem suas teorias. O Eu Interior corresponderia, em algumas tradições nórdicas, ao que elas chamam de Hame. Pois, de acordo com a tradição nórdica, as qualidades da mente e, portanto, da consciência, estão na Hame. Logo, a Hame seria o Eu Interior, que está em Tipheret.
Na tradição nórdica, todo herói ou guerreiro, que mostrasse valor e honra durante a vida, teria a sua Fylgja fundida com a sua Hame, formando, da união dos dois, a Hamigja. Dessa forma, tal guerreiro, depois de morto, seria levado ao Valhalla, onde graças à força de sua Hamigja, poderia morar no palácio do Deus Odinn por toda a eternidade.
Essa união da Fylgja com a Hame, formando a Hamigja, seria então o momento em que a nossa alma conseguisse desenvolver, em Tipheret, plena consciência de si mesma, conseguindo, dessa forma, manifestar no mundo toda a força e pureza de sua natureza divina. Seria o Herói Valoroso, pois manifestaria no mundo a luz de sua centelha divina. A Fylgja se uniria a Hame formando a Hamigja, pois no momento que a alma conseguir ter plena consciência dela mesma, o Eu Interior será a própria alma completamente consciente e desperta.
Em outras palavras, toda a essência primordial da alma, manifestada pela Fylgja, se transformaria em plena consciência de si mesma, através do Eu Interior, em Tipheret. Nesse momento, não mais estaríamos divididos em vários, mas seríamos apenas um. Não teríamos mais várias fases e etapas de consciências, mas teríamos apenas uma única fase, completamente consciente de sua totalidade e unidade. Estaríamos íntegros. Todas as partes desapareceriam, se fundiriam para formar a Hamigja, a qual iria habitar com os Deuses.
Em algumas tradições rosacruzes, esse estado da alma é chamado de Estado Rosacruz.
Em algumas tradições martinistas, esse estado da alma é chamado de Estado Crístico.
Em algumas tradições de magia, diz-se que o iniciado se tornou uno com o Deus Osíris.
Em algumas tradições thelemicas e de magia, diz-se que esse estado se consegue a partir da conversação com o Sagrado Anjo Guardião.
Dessa forma, não importa que tradição nós seguimos, não importa que religião ou culto nós realizemos, pois o Grande Arquiteto do Universo nos deixou pistas em todas elas, para que possamos vir a manifestar, aqui na Terra, a perfeição de nossa alma divina. Basta procurar e saber enxergar!
Bibliografia:
1-) Manual Nórdico - O Texto Rúnico,
Autor: Grimmwotan Idavoll,
2-) The Mystical Qabalah
Autora: Dion Fortune
3-) Deuses e Mitos Do Norte Da Europa
Autora: H.R. Ellis Davidson
4-) Dogma e Ritual De Alta Magia
Autor: Eliphas Levi.
5-) A Cabala Das Feiticeiras
Autora: Ellen Cannon Reed
6-) Nornor and Disir
Autor: Nordisk Hedendom
7-) Shamanismo Nórdico – Bersekergar
Autor: Áistan Falkar
8-) Draculya e os Varengos Autor: Áistan Falkar