O princípio era Trino, não era Uno. Existia um grande vazio, o Vácuo Infinito, conhecido por Ginnungagap. Num canto desse vazio existia Musphell, a Terra do Fogo, a Expansão e Calor Infinitos. Pura Atividade, sem forma alguma, é energia ao infinito, completamente desvinculado de matéria ou forma. Se algo começa a tomar forma em Musphell, no mesmo instante essa formação se desintegra, pois o princípio desse mundo é mudança e atividades constantes. E em outro canto do Ginnungagap existe Niphell, a Terra da Névoa e do Gelo, a constrição e frio infinitos, sem atividade alguma, lugar das formas estáticas e sem energia. Pura forma, tudo é gelado e estático, pois não há energia para animar essas formas inertes.
O Ginnungagap, Musphel e Niphel são completamente incompatíveis, não fazem parte da mesma essência e sempre existiram. Apesar de incompatíveis, fagulhas de Musphel voaram através do Ginnungagap em direção a Niphel, enquanto a névoa gelada de Niphel invadiu o Ginnungagap, indo em direção a Musphell. Quando o Fogo de Musphell se encontrou com o Gelo de Niphell, no meio do Ginnungagap que os separava, houve uma reação que conciliou os dois opostos, dando origem ao Gigante Ymir. Por sua vez, Ymir deu origem à raça dos Gigantes, que foram os primeiros seres a habitarem o Cosmos recém-criado. Porém não era o Cosmos que conhecemos, pois ele estava envolto no Caos.
Dessa forma, a Unidade nunca existiu de fato. O que é eterno é a Trindade, ou seja, duas forças extremas e opostas, representadas por Musphell e Niphell, as quais encontram-se separadas por uma terceira potência, representada pelo Guinnungagap, que é o Vácuo Absoluto. Apesar do Vácuo Original separar os pares de opostos extremos, é o próprio Ginnungagap que também serve de intermediário entre os opostos, conciliando-os na criação do Cosmos, representado pelo Gigante Ymir.
Esse Universo, porém, não era o Universo conhecido atualmente. Era um mundo caótico e desprovido de ordem, pois para que haja ordem é necessária a ação de uma inteligência, coisa que não existia. Esse estado desorganizado é representado pelo Gigante Ymir e sua prole, numa época em que ainda não existiam as Leis da Natureza conforme existem hoje, pois as mesmas ainda não tinham sido formuladas.
Em meio a esse Caos nasceram, filhos de um casal de Gigantes, os três primeiros Deuses Aesires: Odin e seus dois irmãos, Vili e Vê. Esses três Deuses não gostavam do Caos em que viviam e, portanto, mataram o Gigante Ymir, pois Odin queria implantar a ordem e, com isso, propiciar o progresso das futuras criaturas que iriam habitar o Universo. Com isso, a prole de Ymir morreu toda afogada no sangue do Gigante Primordial. Os poucos Gigantes que restaram foram expulsos do Cosmos, fugindo para Jotumheim, a Terra dos Gigantes, que fica no limite do Universo com o Nada Absoluto.
E do corpo do Gigante Ymir os três Aesires Originais fizeram o Cosmos como existe hoje em dia, sendo que Odin ficou sendo o Rei de Asgard, ou seja, Rei dos Aesires.
Isso ilustra a passagem do caos para a ordem, e como Odin veio a se tornar o Rei dos Aesires, pode-se considerar esse fato como um indício de que o mentor intelectual dessa façanha foi Odin, auxiliado pelos seus dois irmãos, que o ajudaram a colocar o seu plano em prática.
Foi Odin quem arquitetou o Universo, criando as leis da natureza e organizando o Cosmos, fazendo-o funcionar como uma máquina perfeita, seguindo regras constantes e imutáveis. Odin é a Mente Cósmica por detrás de todo o universo. Dessa forma, Odin é o Grande Arquiteto do Universo.
O G.’.A.’.D.’.U.’. é o Deus Odin, pois foi ele o mentor intelectual do Cosmos, mas Odin não é o único Deus que existe. Apesar dele ser o mentor intelectual, foi auxiliado pelos seus dois irmãos, os Deuses Vili e Vê.
Odin dividiu o Cosmos em Nove Mundos, sendo todos eles interligados pela Yggdrasil, a árvore que dá suporte ao Universo. Em resumo, esses nove mundos são:
a-) Asgard, a Terra dos Deuses Aesires, onde o Deus Odin é o rei.
b-) Alfheim, Terra dos Elfos de Luz, onde o Deus Frey é o rei.
c-) Midgard, é onde nós humanos vivemos.
d-) Jotunheim, é a Terra dos Gigantes
e-) Vanaheim, é a Terra dos Deuses Vanires.
f-) Musphelheim, é o próprio Musphell, ou Terra do Fogo.
g-) Niflheim, é o próprio Niphell, ou Terra do Gelo.
h-) Svartalfheim, a Terra dos Elfos Escuros
i-) Nidavellir, Terra dos Anões, fica abaixo de Midgard
Numa região de Niflheim fica um lugar conhecido como Hel, a Terra dos Mortos, cuja rainha é a Deusa Hella.
Essa é a cosmogênese de acordo com o Paganismo Nórdico. Resolvi, então, comparar os elementos do Paganismo Nórdico com outras Tradições, como o pitagorismo, pois tal filosofia influenciou fortemente o pensamento ocidental. De acordo com Pitágoras, a base do Universo são os números, pois eles são a essência de tudo. Foi Pitágoras quem inventou o termos Kosmos, que significa princípio ordenador, onde tudo tende à harmonia. Por isso mesmo os pitagóricos costumavam se referir ao Geômetra do Universo, pois tudo no Cosmos era explicado por relações numéricas, pensamento que os cabalistas iriam retomar cerca de mil anos depois, e a ciência oficial bem mais tarde!
Para os seguidores de Pitágoras todo o Universo era explicado pela Tetraktys Sagrada, que eram os números de 1 a 10. Esses dez números eram os responsáveis por explicar tudo o que existia, filosofia parecida com a dos cabalistas da Idade Média, que chamaram os números de 1 a 10 de sephirat, ou esferas, e chamaram esse esquema de Árvore da Vida (Otz Chiim), da mesma forma que os pitagóricos fizeram com a Tetraktys Sagrada na Antiguidade.
Já que é assim, vou tentar montar um esquema baseado em Dez Esferas de Influência, e vou chamá-lo de Árvore da Vida Nórdica, obtendo parte de minha inspiração no trabalho do Frater Oxi Ziredo, denominado “ Aigin Handugei”. Afinal de contas, de acordo com Lavoisier: “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”...
A Árvore da Vida Nórdica
Na árvore nórdica não houve um início, pois Ginnungagap, Musphell e Niphell sempre existiram. Já para os pitagóricos, o Uno, ou Fogo Central, era a origem de todos os números, assim como para a Cabala o inicío ocorre com a emanação da sephirat número UM, chamada Kether. Para Pitágoras o Uno se manifesta através do Dois e se conscientiza através do Três, o que pode ser apreendido quando os cabalistas dizem que de Kether foi emanada Chokmah, e de Chokmah foi emanada Binah, formando as três sephirot superiores. Essas Três Sephirot Superiores constituem o Mundo dos Arquétipos, o qual pode ser entendido como sendo o Mundo da Idéias, preconizado por Platão séculos antes, na Antiguidade.
Só que os cabalistas tinham um problema, pois se a primeira sephirat foi emanada, é sinal de que existia algo anterior à própria existência, e apesar de se querer explicar o que havia antes de Kether, não tinham como fazê-lo
Portanto, na árvore cabalística existem os 3 Véus da Existência Negativa. Na árvore nórdica isso não existe. Eis a primeira diferença. Na árvore nórdica não há nada desconhecido, pois tudo está representado na mesma.
O desconhecimento do que existia antes do início, simbolizado pelos Véus da Existência Negativa, foi substituído pela existência eterna do Ginnungagap, de Musphell e de Niphell, que embora sejam nomeados, também são estados de existência impossíveis de serem imaginados pela mente humana, pois são estados de existências extremas (Vácuo Infinito, Calor e Expansão Infinitos, Frio e Constrição Infinitos). Sendo tais elementos completamente transcendentais, vou considerar que o Mundo das Idéias Arquetípicas seria formado por eles. Dessa forma, a Primeira Esfera corresponderia ao Ginnungagap, a Segunda Esfera corresponderia a Musphell e a Terceira Esfera corresponderia a Niphell.
Para os seguidores de Pitágoras, o Cosmos era formado pela harmonia entre pares de opostos, que eles dividiam entre números pares e infinitos de um lado, e números ímpares e finitos do outro, conceito esse que os cabalistas da Idade Média representaram através da segunda e da terceira sephirat, sendo Chokmah a Potência Masculina e Positiva ao Infinito e Binah a Potência Feminina e Negativa ao Infinito.
Tal qual na Kether cabalística, no Ginnungagap todo o Universo já existia em potencial. Mas ao contrário da Kether cabalística, Ginnungagap não representa a Unidade, pois tal Unidade nunca existiu. Dessa forma o Cosmos não foi emanado do Ginnungagap. As coisas já existiam em potencial no Grande Vazio porque foi ele o pano de fundo que propiciou com que Musphell reagisse com Niphell, gerando, dessa conciliação de opostos, o Universo.
Além do mais, de acordo com a Cabala, o Cosmos existe da forma que conhecemos atualmente devido a decisões tomadas em Kether. Ou seja, tudo o que existe foi pré-definido e originado na primeira sephirat. Mas de acordo com a Árvore Nórdica, o Cosmos como existe hoje foi originado por Odin, o Pai Excelso, pois foi Ele quem ordenou o caos e instaurou a ordem, auxiliado por seus dois irmãos. Como Grande Arquiteto do Universo, foi Odin quem formulou as leis da natureza e da ordem cósmica e, portanto, tudo o que existe foi pré-definido e originado por Odin. Ora, isso está de acordo com a definição cabalística do que deveria ter ocorrido na primeira Esfera de Influência e, portanto, eu me sinto à vontade de colocar Odin como representante atual das forças de Ginnungagap. Afinal de contas, foi Odin quem coordenou as forças originadas pela interação entre Musphell e Niphell, formulando como deveria ser o Cosmos, sendo que tais forças se originaram no Ginnungagap. É como se o Pai Excelso fosse a mente que despertou no que era o Grande Vazio, agora preenchido de matéria e energia, a fim de ordenar esse caos e formar um Cosmos regido pela ordem e pelo progresso.
Resumindo, com a interação entre as forças de Musphell com as de Niphell, o Ginnungagap foi preenchido pelo Caos, que devido a iniciativa e planejamento de Odin, esse Caos foi transformado em Ordem, originando o Cosmos, que por ser regido por regras fixas e imutáveis propicia o progresso de todos os seres que nele vivem e se desenvolvem. E como Odin é o Rei de Asgard, nada mais natural do que considerar Asgard no nível da Primeira Esfera-Ginnungagap, o nível mais alto a que a compreensão humana pode chegar, habitado pelos Deuses e pelos heróis valorosos.
A Criação e a Unidade
Os discípulos de Pitágoras diziam que o Cosmos foi formado pela harmonização entre os opostos, pensamento esse que foi ilustrado e desenvolvido na Cabala, a qual diz que foi da interação entre Chokmah e Binah que surgiu o Universo tal qual conhecemos, sendo o Cosmos a manifestação resultante da conciliação entre pares de opostos. De acordo com essa linha de pensamento, a primeira coisa a se manifestar foi a sephirot Oculta e sem número, Daath, que raramente aparece nos esquemas da Árvore da Vida Cabalística, e quando aparece é desenhada com linhas pontilhadas. E da mesma forma que no caso da cosmogênese nórdica, Daath representa o estado de Caos inicial, estado esse que foi ordenado pelo G.'.A.'.D.'.U.'., sendo que esse processo de ordenação é representado pela emanação das outras sete sephirot que compõem a Otz Chiim. E talvez seja por isso que Daath não apareça tradicionalmente na Árvore da Vida Cabalística, pois a ordem cósmica é representada pelas Dez Sephirot tradicionais, numeradas de Um até Dez (alguém lembrou da Tetraktys Sagrada de Pitágoras?). E como o Cosmos encontra-se atualmente ordenado, Daath deixou de existir nesse esquema de Ordem. Ela é apenas uma sephirat intermediária entre o Mundo das Idéias Arquetípicas das Três Sephirot Superiores e o Cosmos perfeitamente ordenado e manifestado, representado pelas Dez Sephirot Tradicionais que compõem a Otz Chiim. E por representar o Caos Inicial, Daath também é a conexão com as Qliphot, ou seja, as representações das sephirot em desequilíbrio.
Portanto, já podemos perceber que, em nossa Árvore Nórdica, a Esfera Intermediária também existe, pois a primeira coisa a se manifestar com a conciliação das forças opostas de Musphell e Niphell foi o Gigante Ymir, representação do Universo Caótico Primordial, ou seja, o que em Thelema se chama o Grande Abismo.
E nesse ponto vem a inovação: a Esfera Intermediária seria a representação da Unidade! Ela representaria a Unidade da Criação, pois o Cosmos é um só. Tudo o que existe encontra-se ligado com o Todo, formando uma grande rede cósmica, interligando tudo através das mesmas leis da natureza, leis essas que foram formuladas por Odin e que mantém a ordem cósmica.
Por ser intermediária, todo o indivíduo que pretende trilhar o caminho da Iluminação terá que passar, mais cedo ou mais tarde, por essa Esfera de Influência. Ela é o Abismo profundo e tenebroso que separa o mundo da manifestação que conhecemos do mundo divino que está além da nossa compreensão atual.
Como essa Esfera de Influência representa a Unidade, ela está acima do mundo das dualidades, representado pelas sete Esferas de Influência inferiores. O mundo das dualidades é o nosso mundo, dividido entre pares de forças opostas não conciliadas e desequilibradas. Enquanto permanecermos no mundo ilusório das dualidades, estaremos em desequilíbrio e, portanto, estaremos sobre influência de forças externas e completamente fora de nosso controle. Seremos joguetes do destino e escravos da ignorância. Isso ocorre porque se mantermos os opostos não conciliados dentro de nós mesmos e em nossas vidas, estaremos refletindo o estado primordial, com Musphell separado de Niphell pelo Ginnungagap, e isso representa a Não Manifestação. Dessa forma, mantermos os opostos desequilibrados e não conciliados significa que vivemos num Grande Vazio Interior, pois a nossa Verdadeira Essência ainda não se manifestou nesse mundo.
Ao conciliarmos os opostos dentro de nós mesmos e em nossas vidas, estaremos manifestando a nossa Verdadeira Essência no mundo, pois teremos atingido o Abismo e, portanto, estaremos refletindo a interação de Musphell com Niphell na criação do Cosmos. Mas lembrem-se que o Abismo é profundo e tenebroso, e ao entrarmos nele poderemos ficar perdidos em suas trevas. Extasiados com a Unidade, poderemos ficar reféns de nosso próprio ego, que com sentimentos egoístas nos impede de prosseguir.
Da mesma forma que a primeira coisa a se manifestar com a interação de Musphel e Niphell foi o Universo Caótico do Gigante Ymir, a primeira coisa a surgir com a conciliação dos opostos será o Caos Interior, onde enfrentaremos os nossos medos e as nossas ilusões. Será um novo estado mental completamente desconhecido e, portanto, ainda sem controle, com uma grande confusão interior ocasionada pelo fato de estarmos adentrando num mundo completamente além de nossa capacidade intelectual atual. As dúvidas que nos ligam ao mundo das dualidades irão nos perseguir e nos tentar. Além disso, sempre que entramos em algo novo, sem conhecimento e experiência, nos sentimos confusos e, se a confusão for muito grande, corremos o risco de perder o controle e simplesmente enlouquecer em meio ao Caos. Afinal de contas, para aprender a andar de bicicleta teremos que levar alguns tombos!
Porém, com a ajuda de Odin, teremos o discernimento, a disciplina e a vontade necessários para colocar os nossos pensamentos e sentimentos em ordem. Tal qual o Pai Excelso que organizou o Caos original, nós iremos descobrir a nossa Verdadeira Vontade e, com isso, instaurar a Ordem em nosso interior e, dessa forma, tendo pleno controle da situação, iremos conseguir cruzar o Abismo, rumo a Asgard, no mundo das Três Esferas Superiores. Daí sim iremos manifestar a nossa Centelha Divina, pois estaremos refletindo, a nível pessoal, o que Odin fez a nível macrocósmico na criação do Universo: estaremos implantando a Ordem no caos, a fim de obtermos o progresso. E como dizem na maçonaria: com o auxílio do G.'.A.'.D.'.U.'. iremos transformar a nossa pedra bruta em pedra polida.
É somente cruzando a Esfera Intermediária e passando pelas provações do Abismo é que conseguiremos sair do mundo atual das dualidades para adentrarmos em Asgard, a morada dos Deuses. Na mitologia nórdica, o único caminho que liga Midgard à Asgard é a Ponte Bifrost, também conhecida como Ponte do Arco-Íris. E protegendo os portões de Asgard, ao término do Bifrost, está o Deus Heimdallr, que só deixa passar aqueles que são dignos de entrar. A função de Heimdallr é impedir que os Gigantes e as pessoas indignas consigam entrar em Asgard. Dessa forma, o Deus associado a essa Esfera é Heimdallr, que só deixa passar aqueles que conseguirem por ordem em seu caos interior.
A Esfera Intermediária-Heimdallr é o ponto no meio do círculo, pois tudo o que existe atualmente teve lá a sua origem, pois é dali que as forças constantemente geradas pela interação entre Musphell e Niphell passam para o Cosmos que conhecemos. Além do mais, todos que pretendem alcançar Asgard terão que se dirigir para a Esfera Intermediária-Heimdallr, para que com o auxílio de Odin possam tomar posse de sua Verdadeira Vontade e finalmente cruzar o Bifrost, indo habitar com os Deuses.
As Esferas Abaixo do Bifrost
Continuando a minha análise, vou divagar um pouco sobre o restante da Árvore Nórdica, analisando rapidamente cada uma das sete Esferas restantes.
a-) Esfera da Construção-Thor
(Obs.: Esta esfera de influência, aprendida pelos pitagóricos sob outros nomes, foi chamada pelos cabalistas muito tempo depois de Chesed.)
É nessa Esfera de Influência que os planos divinos formulados por Odin estão esquematizados, pois as Forças dessa Esfera é que são responsáveis pela manutenção do Cosmos. Uma vez que o Universo foi criado, é a Esfera de Formação a responsável por manter a ordem no mesmo, certificando-se de que o esquema original continue funcionando.
Ela também representa as forças construtivas do Cosmos e, portanto, responsável pela prosperidade. Além disso, essa Esfera também representa a Misericórdia, atuando no consolo e proteção dos mais necessitados.
Essa Esfera é regida pelo Deus Thor. Thor é filho de Odin com Jord, Deusa da Terra. Thor é um Deus da natureza, do trovão e da fertilidade, pois é o responsável pelas chuvas que fertilizam a Terra e, portanto, está relacionado com as forças construtivas do planeta que propiciam a prosperidade do povo, através de terras férteis.
Enquanto o seu pai Odin era adorado pelos reis, nobres e guerreiros, Thor era mais adorado pelos agricultores e pelo povo mais humilde, pois Thor era o Deus responsável pela proteção dos mais fracos e, dessa forma, compatível com a Misericórdia.
Thor também era o campeão de Asgard, o inimigo número um dos Gigantes e defendia a Terra de todos os ataques dos terríveis Jotuns, que eram os Gigantes que viviam em Jotunheim. Como os Gigantes representam as Forças do Caos, a constante luta de Thor contra os mesmos significa que Thor é uma força ativa na manutenção da Ordem pré-estabelecida por Odin, o que está de acordo com as características dessa Esfera. Odin, o G.’.A.’.D.’.U.’., estabeleceu a Ordem matando e expulsando os Gigantes, e Thor mantém essa Ordem impedindo que os mesmos retornem para a Terra.
b-) Esfera da Destruição–Tir
(Obs.: Esta esfera de influência, aprendida pelos pitagóricos sob outros nomes, foi chamada pelos cabalistas muito tempo depois de Geburah.)
Essa Esfera é oposta a Esfera da Construção e representa as Forças de Destruição. Tudo o que está em desequilíbrio é destruído por ação dessa Esfera. Dessa forma, essa Esfera garante que tudo que tenha dado errado possa ser concertado. Ela também é chamada de esfera da Severidade e Justiça, pois ela representa a Justiça Cósmica, sempre imparcial e punindo aqueles que transgridem as leis da natureza.
Por isso essa Esfera estaria associada ao Deus Tir, Deus da guerra, das atividades bélicas, da justiça, da severidade e da honra. Os guerreiros, antes de irem para a guerra, invocavam os Deuses Tir e Odin. Assim como Odin, Tir também recebia sacrifícios em agradecimento a uma batalha vencida.
Era costume entre alguns povos nórdicos da Antiguidade realizarem julgamentos invocando-se a presença de Tir. Fazia-se uma fogueira e as partes em contenda invocavam a presença de Tir para que o Deus fizesse justiça e indicasse o culpado. As partes em litígio tinham, então, que colocar a mão na brasa, em óleo ou em água fervendo. Tir, Deus da justiça, iria dar força e coragem ao justo, e ia fazer com que seus ferimentos fossem leves. Por outro lado, com sua severidade iria punir o culpado, ocasionando um medo e uma covardia tão grande que faria com que o infeliz desistisse do julgamento, o que serviria como ato de confissão da culpa. Mas se o coitado insistisse em continuar com a cerimônia, Tir provocaria dores e ferimentos tão atrozes no culpado que ele não resistiria e confessaria o crime de que era acusado. É daí que surgiu a frase: “Eu ponho a mão no fogo como é verdade”.
c-) Esfera do Equilíbrio–Baldhur
(Obs.: Esta esfera de influência, aprendida pelos pitagóricos sob outros nomes, foi chamada pelos cabalistas muito tempo depois de Tipharet.)
Essa Esfera representa o equilíbrio entre as forças de construção e destruição do Cosmos, representa a manifestação perfeita, pois ela é o que equilibra e harmoniza todas as forças que agem na Árvore da Vida. Nela os pares de opostos se equilibram em perfeita harmonia, propiciando a manifestação da Luz Espiritual em sua maior beleza. Por isso um de seus símbolos é o Sol, pois aquele que consegue o equilíbrio interior faz sua Centelha Divina brilhar na Terra. Quem atinge essa Esfera se ilumina com a Luz Divina e abandona a velha vida para renascer uma nova pessoa. Portanto ela também representa a morte e o renascimento necessários para se atingir a maestria.
Ao cruzar o Bifrost, na Esfera Intermediária, nós transcendemos o mundo da dualidade e da dúvida, nos tornando integros e plenamente cientes de nossa natureza divina. Porém é na Esfera do Equilíbrio onde ocorre a preparação prévia para se prosseguir rumo ao Bifrost, pois é aqui que conseguimos deixar as forças opostas que agem em nós em perfeito equilíbrio. Se tentarmos cruzar o Abismo com as forças desequilibradas, Heimdallr irá intensificar essas forças ao infinito e, como resultado do desequilíbrio inicial, seremos despedaçados. Mas se tentarmos cruzar o Bifrost com as forças previamente equilibradas na Esfera do Equilíbrio, quando tais forças forem intensificadas ao infinito o equilíbrio perfeito resultará na manifestação de nossa mais pura Essência, a qual deverá ser ordenada pela nossa Verdadeira Vontade, a fim de que possamos seguir rumo a Asgard.
Portanto eu considero que essa Esfera é regida pelo Deus Baldhur, filho do Deus Odin com a Deusa Frigga. Baldhur é o deus da pureza e da harmonia. Baldhur é o Deus responsável pela conciliação das partes em confronto e, por sua atitude equilibrada e justa, é considerado o Deus da paz. Baldhur é o Deus capaz de harmonizar as forças conflituosas em nosso interior, nos propiciando atingir a Paz Profunda.
Baldhur também representa a Iniciação, pois ele também é considerado o Deus da morte e do renascimento, pois de acordo com o mito do Ragnarok, com a morte de Baldhur o mundo acaba, mas Baldhur irá renascer com um novo mundo de paz e harmonia.
d-) Esfera da Essência–Freya
(Obs.: Esta esfera de influência, aprendida pelos pitagóricos sob outros nomes, foi chamada pelos cabalistas muito tempo depois de Netzach.)
Essa Esfera representa os sentimentos e a essência de todas as coisas. Nela as forças que irão agir na formação do Cosmos já existem em essência, mas ainda não possuem uma forma definida. Essas forças são fluídicas, variando constantemente de forma. Não existem almas individuais, e sim almas grupo e, portanto, tais forças ainda são genéricas e não estão associadas a nenhuma forma ou representação específica. Por isso as forças sob ação dessa Esfera são justamente as emoções.
Dessa forma, a Deusa que rege essa Esfera é a Deusa Freya, irmã do Deus Frey e filha do Deus do mar Njord com a Giganta das montanhas Skadi.
Freya é a Deusa do amor e, portanto, tem pleno controle sobre as emoções humanas. Além do mais, ela controla a essência de todas as coisas, pois como mestra da arte do Seidhr, ela viaja pelos Nove Mundos e altera a realidade, manipulando a essência do próprio mundo material.
A Deusa Freya também é uma Deusa da fertilidade e, portanto, essa Esfera é responsável pela essência vital que se insufla na matéria, o que faz com que a vida seja um fenômeno a se manifestar por todo o Cosmos.
e-) Esfera da Forma–Loki
(Obs.: Esta esfera de influência, aprendida pelos pitagóricos sob outros nomes, foi chamada pelos cabalistas muito tempo depois de Hod.)
Essa é a Esfera da inteligência e do raciocínio, sendo o que dá forma às energias difusas da Esfera-Freya. A Esfera-Freya é a essência, enquanto a Esfera-Loki é a forma. Aqui as forças genéricas e indefinidas da Esfera-Freya tomam uma forma específica, criando uma individualidade própria. As forças não são mais fluídicas, pois aqui elas adquirem uma forma fixa. Loki representa o nosso intelecto, pois é ele que, através do pensamento lógico, transforma as nossa idéias e sentimentos abstratos em fatos palpáveis e úteis.
Sendo Loki, irmão adotivo de Odin, o Deus mais esperto e inteligente dos Nove Mundos, as forças dessa Esfera estariam sob regência do Deus Loki. Da mesma forma que o nosso intelecto puro, baseado somente na lógica, pode nos iludir e nos dar falsas idéias frente aos fatos complexos da vida, Loki também gosta de confundir e enganar as pessoas. Porém, sempre que Loki se encontra em situação ruim, ele usa de sua astúcia para reverter a situação e acaba saindo da mesma com vantagens úteis a ele e aos Deuses. Da mesma forma, quando nos encontramos em apuros, são as forças de Loki que fazem com que nosso intelecto ache uma saída proveitosa para nós.
f-) Esfera da Formação–Nornes
(Obs.: Esta esfera de influência, aprendida pelos pitagóricos sob outros nomes, foi chamada pelos cabalistas muito tempo depois de Yesod.)
Essa Esfera representa o Plano Astral, que é a base para a formação do plano terreno. Nela está a quinta-essência, que é a essência dos quatro elementos que irão formar o plano terreno, de acordo com os filósofos gregos. Embora a quinta-essência seja a base para a formação dos quatro elementos, ela não pertence ao plano material, porém tudo o que acontece no plano terreno é resultado das transformações que ocorrem no plano astral, representado por essa Esfera. Se algo se manifesta no plano terreno, é por que esse fato se manifestara antes no plano astral. Essa Esfera também representa o nosso subconsciente, pois da mesma forma que o plano astral é a base para as manifestações do plano terreno, o nosso subconsciente também é a base para a maioria de nossas ações e emoções.
Por isso quem rege essa Esfera são as Três Nornes. São elas as responsáveis por entrelaçar a rede do destino. São elas que definem, baseadas em nossas atitudes, quais devem ser as reações às nossas ações, pois elas levam em consideração a inter-relação entre todas as coisas do Universo. Tudo o que acontece no mundo ocorre porque foram as Nornes que teceram os fatos na teia cósmica.
Elas são três:
=> Urd, responsável por levar em consideração todos os atos do passado.
=> Verdandi: Baseado em todos os atos do passado, é a responsável por decidir o que ocorre no presente.
=> Skuld: Baseado nos atos do passado e do presente, é a responsável por decidir como as consequências desses atos tendem a se desenvolver no futuro.
Uma das formas de se tentar intuir as tendências para o futuro é através da meditação, que nos coloca em contato com as forças das Nornes que regem o nosso subconsciente.
g-) Esfera da Manifestação–Gerda e Frey
(Obs.: Esta esfera de influência, aprendida pelos pitagóricos sob outros nomes, foi chamada pelos cabalistas muito tempo depois de Malkuth.)
Essa é a décima Esfera, que corresponde ao mundo material propriamente dito. Ela representa a própria Terra.
Dessa forma, associei essa Esfera à giganta Gerda, esposa do Deus Frey, que é um Deus da fertilidade. Gerda está relacionada à terra e, portanto, representa as forças naturais que regem o mundo material. Por ser uma giganta, significa que as forças naturais são selvagens e difíceis de se manter sobre controle. Se deixadas agirem livremente, sem interferência da ação humana, a tendência é a destruição de qualquer vestígio da civilização com o passar do tempo. Cidades abandonadas viram ruínas e desaparecem com o passar dos séculos, devido à ação das forças naturais.
Porém, “onde está Gerda encontra-se Frey”. Dessa forma, a Esfera da Manifestação também é regida pela presença do Deus Frey, o que causa a fertilidade da Terra. É Frey o responsável por tornar a terra fértil e de vida abundante. É através da ação das forças do Deus Frey agindo sobre Gerda que desertos e regiões inóspitas podem se tornar áreas férteis e habitáveis.
Assim sendo, o Cosmos permanece em ordem graças à ação dos Deuses Aesires e Vanires, que impedem que os gigantes de Jotunheim invadam novamente o Universo, o que resultaria na implantação do caos.
Bibliografia:
1-) Manual Nórdico - O Texto Rúnico,
Autor: Grimmwotan Idavoll,
2-) The Mystical Qabalah
Autora: Dion Fortune
3-) Deuses e Mitos Do Norte Da Europa
Autora: H.R. Ellis Davidson
4-) Aigin Handugei
Autor: Frater Oxi Ziredo