Orfismo
De acordo com alguns autores, o Orfismo era baseado na lenda do Deus Dionísio, que era filho de Zeus e Perséfone. Diz a lenda que Hera, esposa oficial de Zeus, enciumada mandou os Titãs assassinarem Dionísio. Eles assim o fizeram e, depois de matarem o jovem Deus, esquatejaram-no, assaram os seus restos mortais e o comeram. A Deusa Atena, que passava pelo local, conseguiu salvar o coração de Dionísio, entregando-o a Zeus. O Rei do Olimpo, enfurecido, com um raio dizimou os Titãs, transformando-os em cinzas. Feito isso, comeu o coração de Dionísio. Dionísio, então, renasceu de Zeus como um verdadeiro Deus do Olimpo, em toda a sua glória.
Outros autores contam a lenda de uma forma um pouco diferente. Contam que foi o Deus Hermes que salvou o coração de Dionísio e que Zeus, depois de fulminar os Titãs com um raio, ao invés de comer o coração o implanta em sua perna. Em seguida, ele engravida a mortal Semele, sendo que Dionísio renasce de Semele.
Independentemente de como termina a lenda, o tópico principal em que se baseava o Orfismo é o mesmo: Dionísio sendo morto pelos Titãs e renascendo em seguida por intervenção divina. De acordo com os ensinamentos órficos, as cinzas a que foram reduzidos os Titãs formam o corpo do ser humano, enquanto o coração divino de Dionísio forma a alma humana.
Dessa forma, de acordo com o Orfismo, o ser humano tem uma alma divina, aprisionada num corpo material. Para eles o corpo material era sujo, enquanto a alma era pura. Acreditavam na encarnação. Para eles, quando alguém morria e não era puro o suficiente, tinha que reencarnar novamente, esquecendo-se de sua natureza divina. Dessa forma, a cada reencarnação a alma da pessoa ia se purificando, até chegar ao ponto em que não precisaria mais voltar à Terra. Nesse ponto, ao morrer, ao invés de se reencarnar ele iria para os Campos Elíseos, morar junto aos Grandes Heróis.
Essa purificação era representada pela transformação dos Titãs em cinzas, e a quebra do ciclo de reencarnações era representado pelo coração de Dionísio que era salvo, permitindo que o Deus renascesse em toda a sua glória no Olimpo.
Os Mistérios Órficos visavam a purificação do Iniciado para que o mesmo, auxiliado pelo Deus Dionísio, conseguisse quebrar os ciclos de reencarnação. De certa forma, o Orfismo lembra um pouco o Espiritismo Kardecista, só que no caso do Orfismo é o Deus Dionísio quem guia o ser humano aos Campos Elíseos.
O Orfismo viria a influenciar fortemente um outro movimento posterior, o Pitagorismo.
Pitagorismo
A escola pitagórica, tal como o Orfismo, também pregava que o objetivo final do ser humano era abandonar os ciclos de reencarnação. Acreditavam que o ser humano podia se reencarnar não apenas como humano, mas que também podia voltar à vida terrena como um animal ou até mesmo como um vegetal, e que em cada uma dessas vidas terrenas, a alma ia se purificando, mostrando forte influência do Orfismo na filosofia pitagórica. O Pitagorismo também pregava várias práticas de purificação, dentre as quais a proibição de se comer carne e de se beber vinho. Para os pitagóricos, assim como para os órficos, a alma era perfeita, enquanto o corpo era imperfeito. Provavelmente, essa idéia de que a alma era pura e o corpo impuro tenha influenciado os primeiros cristãos.
Ao contrário dos órficos, os pitagóricos não acreditavam na purificação do ser humano através do Deus Dionísio. Para Pitágoras e seus seguidores, será o conhecimento que irá libertar o ser humano dos ciclos das reencarnações, mais precisamente, será o conhecimento dos “números” que irá permitir que o ser humano se desenvolva a ponto de se tornar um Deus.
Para Pitágoras, tudo era manifestação dos Números. Para ele, tudo na natureza podia ser descrito através de relações numéricas. De acordo com o pitagorismo, tudo o que existe tem um número que o representa, sendo que as coisas são diferentes entre si devido ao fato de possuírem Números diferentes, ou seja, devido ao fato de serem manifestações de Números diferentes. Mais tarde o Hermetismo iria adotar essa idéia, através dos princípios herméticos das frequências e dos ritmos.
Para os pitagóricos os números são a essência das coisas, sendo o mundo material apenas uma representação grosseira do mundo divino, que é o mundo das essências, é o mundo dos Números. A alma humana pertence ao mundo dos Números e, portanto, é perfeita. Nós não conseguimos ver o mundo Numérico pois nossa alma está aprisionada por um corpo material, imperfeito. Dessa forma, o que os nossos sentidos captam não é a realidade absoluta, e sim uma representação grosseira da mesma. Somente através do intelecto poderemos captar a essência das coisas, ou seja, o mundo verdadeiro formado pelos Números. Tal idéia seria retomada mais tarde por Platão, que ao invés de se referir ao mundo Numérico, iria chamá-lo de Mundo das Idéias, onde as Idéias iriam substituir os Números.
De acordo com Pitágoras, o ser humano irá se desenvolver conforme ele vá cada vez mais compreendendo os Números e as leis que os regem. De acordo com ele, o Universo é regido por leis Numéricas bem definidas e, portanto, é ordenado. E quanto mais o ser humano for compreendendo essas relações, mais ele irá se desenvolver, até chegar ao ponto em que romperá os ciclos de reencarnações, pois passará a estar em perfeita harmonia com as leis numéricas que regem o Cosmos. Em essência, tudo isso foi herdado mais tarde pelo Hermetismo.
De acordo com a Escola Pitagórica, os Números são divididos em Par e Ímpar. Eram defensores da dualidade, ou seja, de que todo o princípio tem o seu oposto, e a Harmonia Cósmica se forma devido a interação e o equilíbrio entre os opostos. Assim sendo, tudo o que existe no Cosmos é formado pela interação entre pares de opostos. Tudo é formado por uma parcela Infinita e por uma parcela Finita. Tudo é formado por uma essência Numérica e por um corpo material. É a interação entre dois princípios opostos que geram um terceiro ponto, que é o que se manifesta. Dessa forma, tudo o que existe tem, em sua essência, características de ambos os princípios opostos responsáveis por sua manifestação. Tal conceito foi herdado pela Cabala e, mais tarde, pelo Hermetismo.
Sabe-se que grande parte dos primeiros cristãos foram pitagóricos, dessa forma, o pitagorismo recebeu uma grande influência monoteísta. Apesar dos escritores e pesquisadores cristãos terem a tendência de afirmar que Pitágora pregava a existência do Uno, eu realmente acho que isso foi uma deturpação posterior dos pitagóricos cristãos, que adaptaram o pitagorismo para que o mesmo estivesse de acordo com o dogma monoteísta. De acordo com alguns autores, os primeiros pitagóricos eram contra o eleatismo, o qual afirmava a existência do Uno. De acordo com o eleatismo, não existia Não-Ser, pois existia somente o Uno, sendo tudo uma Unidade. Porém, de acordo com os pitagóricos originais, se existia um Ser, também existia um Não-Ser, e ambos formavam o Uno, logo, ele já não era Uno, e sim era uma Pluralidade. Isso me indica que os primeiros pitagóricos já anteviam a existência do Zero, sendo que os defensores do Uno erram por achar que o Um era o primeiro número, pois ainda não tinham o conceito do Zero, indicando que o Um não é o primeiro número, o que vai contra o conceito do Uno.
De acordo com a teoria da dualidade pitagórica, se o Uno existia ele teria que ter os princípios opostos dentro de si mesmo, sendo Par e Ímpar ao mesmo tempo. Isso é ilógico e contraditório e, portanto, impossível, pois se esses princípios já existiam, o Uno já não era o Uno. Os primeiros pitagóricos, de acordo com alguns autores, usavam os Números e a lógica matemática justamente para atacar o conceito do Uno apregoado pelo eleatismo. É óbvio que, no futuro, os pitagóricos cristãos iriam esquecer tudo isso, e viriam a deturpar o pitagorismo acrescentando o Uno aos ensinamentos de Pitágoras.
E por fim, os Pitagóricos consideravam o Número 10 como especial. Consideravam que o Número 10 representava a totalidade do Cosmos, pois representava a soma dos 4 elementos que formavam o Universo e, portanto, representava tudo o que existia no Universo. Mais tarde a Tetraktys Pitagórica viria influenciar os Cabalistas na criação de sua Árvore da Vida com as 10 Sephirot.
Sabe-se, pelo que foi exposto, que o Pitagorismo influenciou fortemente o Hermetismo. Mas infelizmente, o Hermetismo também foi deturpado pelo monoteísmo, da mesma forma que o foi o pitagorismo. Dessa forma, vou tentar analisar como seria o Hermetismo sem as deturpações monoteístas.
Hermetismo sem o Monoteísmo
É minha opinião que as Leis Herméticas, sem a influência nociva do monoteísmo, seriam praticamente as mesmas, pois elas descrevem leis naturais. Por exemplo, os 7 princípios herméticos descritos no Caibalion estão corretos em essência. O que está errado é justamente a explicação do porque desses princípios, baseada numa falsa premissa de que só existe um deus único e de que tudo se originou desse tal de Uno.
No Caibalion se fala do TODO, e que tudo está contido no TODO. Concordo com isso, pois tudo o que existe no Cosmos está inter-relacionado, formando um todo coerente que interliga tudo através das leis naturais e do princípio do equilíbrio, responsável pela lei da ação e reação. Porém, a Caibalion erra ao confundir o TODO com a sua fonte, dizendo a asneira terrível de que o TODO é o deus único monoteísta. Afinal de contas, para manter a mentira de que só existe um deus e de que nada existe que não seja ele, os hermetistas monoteístas tiveram que deturpar a verdade. Encobriram o fato de que o TODO foi gerado do Caos, sendo que esse Caos foi colocado em ordem e equilíbrio através das ações dos Deuses Primordiais, que por sua vez deram origem a todo um panteão de Deuses e Deusas, que são os responsáveis por manter essa Ordem Cósmica juntamente com os Deuses Primordiais.
O Caibalion diz que o TODO é mente. Concordo, pois isso é a base da magia e do misticismo. Porém mais uma vez ele erra ao dizer que o TODO é uma única mente infinita. Como eles tem que manter a mentira do Uno em pé, não há espaço para mais de uma mente além da falsa mente do deus monoteísta. Mais uma vez eles encobrem a verdade de que o TODO é formado por várias mentes divinas. Afinal de contas, é a mente poderosa e infinita dos Deuses que mantém a Ordem Cósmica, fazendo com que o TODO se comporte de forma coerente e ordenada.
O Hermetismo monoteísta prega a evolução do ser humano, assim como também apregoam o Orfismo e o Pitagorismo. Isso está correto, pois de fato a tendência do ser humano é evoluir, aumentando a sua compreensão do Cosmos e se tornando cada vez mais desenvolvido. A diferença entre o Hermetismo monoteísta e o politeísta está no fim da jornada, ou seja, em sua etapa final, o que os Hermetistas chamam de a “consecução da Grande Obra”. Como eles tem que manter a mentira do Uno, eles pregam que o destino final é a reintegração à Unidade. Isso é ridículo!!! Afinal de contas, evoluímos para chegar no final e simplesmente desaparecer ? Para que evoluir então ? Dizem os monoteístas que não iremos desaparecer, mas iremos viver integrados ao Uno, e para tentar justificar essa afirmação ilógica, inventam um monte de teorias complexas que não levam a lugar algum, desviando a atenção da verdade.
Sem essa deturpação monoteísta, a verdade é que na etapa final iremos nos tornar tal qual os Deuses! Não iremos nos reintegrar a nada, pois nossa mente será tão desenvolvida que iremos habitar junto com os Deuses, auxiliando-os na tarefa de manter a Ordem Cósmica. Não seremos mais o efeito de causas divinas. Ao contrário, nós seremos as causas divinas ao final da jornada.
Dessa forma, a deturpação monoteísta priva o ser humano de seu destino final, que é se tornar divino, morando e trabalhando junto aos Deuses.
A deturpação monoteísta limita o desenvolvimento humano até o Hagar Fjoll Baldher, ou seja, até a vivência da Unidade Cósmica. Quando digo Unidade Cósmica estou me referindo à percepção de que tudo está relacionado, formando um TODO em equilíbrio. Os monoteístas deturparam esse conceito dizendo que o TODO é a mente única de seu falso deus monoteísta. Dessa forma, a deturpação monoteísta não prepara o Iniciado para a travessia do Hagar Fjoll Bifrost, o que faz com que o pobre coitado venha de fato a desaparecer ao atingir o Ginungagap!
Sem a deturpação monoteísta o Hermetismo iria preparar o Iniciado para que o mesmo pudesse atravessar o Bifrost. Dessa forma, ao chegar ao Ginungagap, sua Verdadeira Vontade estaria forte o suficiente para que ele renascesse em Asgard, morando junto aos Deuses como um Deus.
Comparando a Árvore da Vida Cabalística com o Triu Aiws, é como se Kether estivesse ao nível do Hagar Fjoll Bifrost, pois a deturpação monoteísta impede que se veja o que está acima do Bifrost. Dessa forma a deturpação monoteísta no Hermetismo impede que o ser humano consiga ver e chegar ao Mundo Divino, abortando a jornada do Iniciado no Bifrost!
sábado, 6 de novembro de 2010
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